O mapeador de ausências
“A literatura em língua portuguesa vai muito além daquela
escrita em Portugal e Brasil e escritores Paulinha Chiziane e Mia Couto, ambos
de Moçambique, ou o angolano Pepetela, são exemplos disso.
Na Biblioteca Sabesp você pode encontrar alguns livros
desses autores e O mapeador de ausências, de Mia Couto, é um deles. Neste livro, o
personagem Diogo Santiago faz uma viagem de Maputo à sua cidade
natal, Beira, ambas em Moçambique, num percurso onde personagens e lugares mesclam
elementos de suas histórias pessoais e memórias com a história moçambicana.
Se a leitura do livro é um convite a uma viagem, foi para
mim também a oportunidade de conhecer um dos maiores massacres portugueses em
Moçambique, ocorrido em Inhaminga (veja algo sobre essa tragédia aqui: https://www.dw.com/.../mo%C3%A7ambique.../video-61217590 )
Sobre o livro, por sua vez, podemos pensar que se a ideia de
“mapa” pode estar associada a diversos significados, é comum associá-lo a algo
que serve para nos localizarmos, nos situarmos ante uma dada localidade.
Agora, e quando quem faz um “mapa” o faz para “mapear
ausências”? Em que medida o reconhecimento de ausências em nossas vidas pode se
constituir em “coordenadas de um ‘mapa de afetos’”? A busca por respostas a
perguntas como essa pode nos dar a oportunidade de perceber o quanto a não
elaboração de sentimentos vividos pode cansar mais do que certas travessias,
como diz o poeta Adriano Santiago, um dos personagens nessa passagem:
O que cansa é quanto permanecemos no lugar de onde
pensamos ter partido. (Adriano Santiago. (p. 194).
O trecho acima, é do pai de Diogo Santiago, que nesse mapaemento
das memórias a partir de escritos de seu pai, compõe um mosaico de
histórias pessoais que se mesclam com a do país, conforme pode ser lido abaixo:
Os telhados caíram, as portas e as janelas apodreceram,
as paredes perderam a tinta. As capulanas estendidas a secar são a única mancha
de cor entre os escombros. Benedito Fungai sugere que não procuremos a vila nas
casas. Procurássemos Inhaminga nas pessoas, nos laços sociais que escapam a
quem está apenas de passagem.” (p. 207).
Para além dessas palavras, vale conferir na Biblioteca Sabesp, por conta própria, esse belo livro de Mia Couto!”
Luiz de Barros Moreira, Técnico em Gestão -
Responsabilidade Socioambiental Unidade de Operação e Manutenção Oeste - OO