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Daniel Munduruku: para além do 19 de abril

maio de 2024
Foto: SP Leituras

A concorrida agenda de Daniel Munduruku, com intensos compromissos no dia 19 de abril - data que celebra os povos indígenas do Brasil -,  não impediu que o professor, ativista e escritor indígena do povo Munduruku estivesse presente no “Bate-papo com o autor”, iniciativa que integra a programação cultural mensal da Biblioteca Sabesp.

Prova de que a sua atuação não tem fronteiras, dentro do carro, estacionado em algum lugar da capital paulista, pelo celular, entre uma comemoração e outra, Munduruku conversou por cerca de duas horas com os sabespianos sobre a complexa temática indígena no Brasil, em encontro mediado pela especialista em Literatura Infantil e Juvenil, e também escritora, Lucia Tucuju (foto abaixo). Afinal, o tema não está somente na ordem do dia 19 de abril, mas de todos os dias, um assunto que "pertence ao presente e ao futuro, não mais ao passado", segundo o autor. 



Lucia Tucuju: professora, mediadora de leitura, escritora, atriz, narradora de histórias e  roteirista.  

Índio ou indígena?

Antes de mais nada, convém lembrar que o tradicional Dia do Índio, comemorado todo 19 de abril, passou a ser chamado oficialmente de Dia dos Povos Indígenas, em 2022. A data nos convida a uma reflexão. Para Daniel Munduruku, autor de 65 livros publicados, professor, graduado em Filosofia e tem licenciatura em História e Psicologia, além de ativista do movimento indígena, o termo “índio” não é o adequado, pois foi utilizado de forma a generalizar e atribuir aos povos da terra características preconceituosas como selvagem, preguiçoso, canibal, primitivo, entre outras. Ele explica que tampouco “índio” é um sinônimo para a palavra "indígena" – que  significa aquele que pertence ao lugar, ou, original do lugar, e age como afirmativo tanto do pertencimento quanto das tradições de seu povo.

O marco de 1988

Daniel explica que foi somente com a Constituição de 1988 que foi assegurado aos indígenas o direito de manter a sua própria cultura, rompendo uma tradição secular que entendia os índios como relativamente incapazes, que deveriam ser tutelados por um órgão indigenista estatal (de 1910 a 1967, o Serviço de Proteção ao Índio - SPI; atualmente, a Fundação Nacional do Índio - Funai), até que eles estivessem assimilados à sociedade brasileira, a chamada “integração nacional”. A maior garantia que o texto constitucional trouxe para os indígenas foi o direito de continuar existindo enquanto tais. Essas e outras conquistas são frutos da reivindicação dos próprios grupos indígenas.

Valorização e reconhecimento da cultura e importância dos povos indígenas no país

O autor destacou ainda o papel da literatura e da educação na promoção, valorização e reconhecimento da cultura e importância dos povos indígenas na sociedade brasileira. "São ferramentas fundamentais para combater preconceitos, entender a luta pelos direitos e avanços das políticas públicas e denunciar o genocídio e apagamento da cultura dos povos originários que aconteceu ao longo da história do Brasil. Na visão de Munduruku,  a Lei 11.645, de 2008, torna obrigatório o ensino das culturas indígenas e afro-brasileiras em todo o currículo escolar foi, sem dúvida, um grande avanço.



Live reuniu sabespianos de todo o estado de São Paulo, no dia 19 de abril 

 

“Descobri o livro o Pequeno Príncipe por causa de uma aranha.” (Daniel Munduruku)

O autor contou um feito inusitado sobre a aranha que o incentivou a ler. Na biblioteca da escola onde estudava e realizava pequenos trabalhos de limpeza, uma aranha insistia em fazer sua teia sobre o mesmo livro, dia após dia. “Fiquei, afinal de contas, querendo saber o que aquela aranha estava lendo. Sabem qual era? Um livro que contava a história de um menino que se perdera de seu mundo e tinha vindo parar no deserto. Era a história de O Pequeno Príncipe. "Um livro que leio até hoje.", revela.

Algumas obras em destaque

As obras Histórias de índio, coisas de índio e As serpentes que roubaram a noite, de sua autoria, foram premiados com a Menção de livro Altamente Recomendável pela FNLIJ. “A literatura é um meio de expressar e difundir a cultura indígena, além de uma oportunidade de corrigir muitas distorções que influenciaram várias gerações.”, afirmou.

Seu livro Meu avô Apolinário foi escolhido pela Unesco para receber Menção honrosa no Prêmio Literatura para crianças e Jovens na questão da tolerância. "Este é o meu livro predileto", confessa o escritor.

Ziraldo, presente!

Munduruku dedicou esta live ao saudoso Ziraldo, falecido em abril deste ano, que contribuiu muito com a cultura e a história brasileiras (Ziraldo é criador da Turma do Pererê, formada por um saci, um menino indígena e uma onça, entre outros). 

Quer saber mais? Assista o evento na íntegra disponível no Workplace.

 


 A Turma do Pererê (Wikipedia)