Fábio Fernandes e Ricardo Avari: um bate-papo com muita literatura, inovação e criatividade!
setembro de 2024
Como buscar espaços que favoreçam a criatividade e a inovação? Quem deu a dica aos sabespianos foi o jornalista e escritor Fábio Fernandes, convidado do último “Bate-papo com Autor”, que aconteceu em agosto: "Divirtam-se e aprendam!". À mesa, o debate era em torno de um tema instigante: Literatura e Inovação. A conversa, conduzida pelo escritor Ricardo Avari, biólogo do Laboratório de Microbiologia, do Departamento de Controle da Qualidade de Água e Esgoto – TOQ da Sabesp, trouxe reflexões sobre como a literatura pode despertar a inovação com muita criatividade e ficção.
O tema do encontro não poderia ser mais propício e alinhado com a proposta da Programação Cultural oferecida mensalmente pela Biblioteca. O gerente do Departamento de Acervo e Normalização Técnica – EIN da Sabesp, Allan Saddi Arnesen, que abriu o evento dando boas-vindas a todos, destacou a importância do papel da Biblioteca na criação de oportunidades de discussões que levem aos caminhos da inspiração. “Queremos contribuir e estimular métodos que melhorem a vida profissional e pessoal dos sabespianos, oferecendo suporte para geração de pensamentos criativos e inovadores aos empregados da companhia.”, ressalta Arnesen.
E foi isso que aconteceu durante o encontro com Fernandes, que fez engrossar o caldo de uma conversa pouco convencional por meio de relatos sobre sua trajetória profissional, que resulta em uma intensa produção literária – são 15 livros publicados, além de dezenas de contos e ensaios, além de cerca de 200 obras traduzidas entre livros e quadrinhos que marcaram história. Mas isso merece um capítulo à parte.
Ao falar ao público presente sobre sua carreira,
livros, pesquisas, tradução, inspiração e processos criativos de escrita,
entre tantos outros assuntos, Fernandes trouxe à luz implicações do conceito de
inovação no contexto profissional em atividades ou lugares supostamente
improváveis. “No meu caso, inovação é pensar contra a corrente”, diz o autor. Para ele, tudo depende de uma pergunta essencial e que tem o valor
de inspiração: "E se as coisas pudessem ser diferentes?”.
Um pouco mais de Fábio Fernandes
Para quem não conhece, Fábio Fernandes se autodefine: jornalista,
escritor, tradutor, professor e pesquisador de novas tecnologias de cultura pop
e science fiction studies. Budista, autista, surrealista. E muito mais! “Não
precisamos nos limitar a ser uma coisa só”, destaca o escritor, que traz na
bagagem um currículo e frentes de atuação bastante amplos.
Nascido em 1966 no Rio de Janeiro, graduou-se em Comunicação e é doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, onde é professor no curso de Jornalismo. Como jornalista, trabalhou nos jornais O PASQUIM, O Globo, Tribuna da Imprensa e Valor Econômico. Escreveu, entre outros, os romances Os Dias da Peste, BACK IN THE USSR (finalista do Prêmio Jabuti 2020) e Love Will Tear Us Apart. Em 2013 morou em Seattle, onde estudou na conceituada oficina literária Clarion West Writers Workshop, tendo como instrutores Neil Gaiman e Joe Hill, entre outros escritores de primeira linha do mercado anglo-americano.
É também pesquisador de narrativas utópicas com pós-doutorado pela ECA-USP e líder do grupo de pesquisa interdisciplinar Observatório do Futuro, vinculado à PUC-SP. Em 2024 fez parte, junto com James Patrick Kelly, Ian McDonald e outros, do primeiro grupo de escritores internacionais a ministrar uma oficina literária de ficção científica na China, a Future Fiction Workshop.
Tradução também é inovação
Antes de ter sua formação completa, Fábio já trabalhava com tradução de títulos majoritariamente do inglês e alguns do espanhol e, assim, seguindo desde 1985 até hoje, tornou uma figura central na tradução de obras renomadas do gênero em nosso país. Somando o interesse por tradução à sua área de conhecimento e pesquisa em mídias digitais, cibercultura e sua presença na literatura e cinema, traduziu uma extensa lista de obras de fantasia, terror e ficção científica no campo literário, entre outros livros de âmbitos específicos.
Entre vários títulos que traduziu, destacam-se os romances escritos por William Gibson (Neuromancer, publicado em 2009 como terceira tradução do livro no Brasil, tendo também uma edição comemorativa de 30 anos em 2014; e Reconhecimento de Padrões, de 2005 e reeditado pela terceira vez em 2013), Isaac Asimov (Fundação e Fundação e Império, ambos lançados em 2009), Philip K. Dick (O Homem do Castelo Alto, lançado em 2006; e Valis, de 2007 e reeditado em 2014), Neal Stephenson (Snow Crash, de 2008 e reeditado em 2015), Arthur C. Clarke (2001: Uma Odisseia no Espaço, lançado em 2013) e Anthony Burgess, com Laranja Mecânica, conhecida por ser a segunda tradução do romance na história do livro e a primeira da Aleph (2004), tendo uma edição comemorativa de 50 anos em 2012, reeditada em 2015.
Inspiração e processo de escrita
Fernandes diz que não tem problemas com falta de inspiração. Ao
contrário do medo de enfrentar a “tela branca”, conta que no momento da escrita,
já sabe e tem em mente o que quer. Segundo ele, é resultado do contato
constante com informações, referências e leituras. “É como cozinhar: se você
tiver muitos ingredientes disponíveis na geladeira é possível combiná-los de
maneira improvisada e criativa. Assim acontece com a escrita. Mas tem de ter os
ingredientes”, alerta.
Fábio Fernandes se autodenomina um bibliófilo. “Os livros são
remédios para a alma e as bibliotecas são farmácias”, acredita o autor ao citar
Umberto Eco que alertava que livros são como medicamentos, portanto seria bom
ter muitos em casa em vez de alguns: quando se quer se sentir melhor, vai ao
'armário dos remédios' e escolhe um livro. Não um aleatório, mas o livro certo
para aquele momento. “Dizem que quem lê livros tem várias vidas”, afirmou
Fernandes.