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Já assistiu a uma batalha de SLAM?

agosto de 2023
Foto: O Slam das Minas nasceu em março de 2016, justamente no mês da mulher, para dar voz e acolhimento para as minas. Imagem: Renata Armelin.

Com origem em regiões periféricas, os slams de poesia, poetry slam ou batalha de rimas podem ser definidos como uma competição de poesia falada. Estas batalhas de versos falados se tornaram ponto de encontro de expressão de quem ama fazer, ler e recitar poesia e ocupam espaços das cidades aos moldes dos saraus de antigamente.

Identificado como um gênero literário de resistência, no Brasil o slam é caracterizado pela declamação de versos em espaços públicos, inspirados pelo rap, sintonizados com a vida nas periferias e experimentados coletivamente.

Existem apenas três regras: as poesias devem ser autorais e não terem sido apresentadas em nenhuma outra batalha, devem durar no máximo três minutos e a performance deve contar apenas com a voz e/ou o corpo do poeta para se manifestar, sem usar adereços cênicos ou batidas musicais

As competições, que avaliam não só os versos criados pelos slammers, como também a forma com que seus poemas são recitados, tiveram origem no estado americano de Chicago e chegaram ao Brasil no final da década de 2010.

O primeiro a fazer sucesso em São Paulo foi o ZAP! Slam (Zona Autônoma da Palavra), que completou 10 anos em 2018 e começou a sua história no bairro da Pompeia, na Zona Oeste paulista, fundado pela slammer Roberta Estrela D’Alvareconhecida como uma das precursoras do slam no Brasil, que hoje assume diferentes formatos.  As batalhas poéticas também ganharam notoriedade a partir de eventos como o Slam da Guilhermina, realizado em frente à estação de metrô da zona leste de São Paulo.

Slam: público e coletivo

O professor e psicopedagogo Kauê Tavano, que organiza o SlamOz, evento literário realizado mensalmente em frente à estação ferroviária de Osasco (SP) desde 2017, destaca três pilares que caracterizam o slam no Brasil: ele é público, uma vez que é realizado em territórios abertos e de livre circulação de pessoas; à margem por abordar narrativas periféricas e dar espaço a vozes costumeiramente invisibilizadas pela sociedade e, por último, é uma construção do saber coletivo. 

Além das universidades e praças, a poesia al também ocupa lugar nas escolas, seja pela atuação de poetas na formação de estudantes ou pela implementação de projetos como o Slam Interescolar, uma competição de poesia falada entre alunos de escolas públicas e privadas do estado de São Paulo.

Diante do analfabetismo ainda presente no Brasil, o professor ressalta a importância dos slams como lugares informais de incentivo à leitura e à escrita. “Um slammer é um escritor, o slam é literatura. Por mais que seja a palavra falada, tem muitos poetas que falam e depois transcrevem, então a escrita está associada”, defende.

Ele também relaciona a contribuição dos slams para a construção do pensamento abstrato e crítico, associado ao processo de identificação das narrativas explicitadas pelos poetas, sobretudo em pautas como racismo ou questões de gênero.

Racionais MC’s no vestibular

No Brasil, o slam é bastante influenciado pelo rap e pelo movimento hip-hop. Em 2020, o álbum Sobrevivendo no Inferno, do Racionais MC’s, foi incluído na lista de leituras obrigatórias para o vestibular da Unicamp. O disco, considerado um marco na história da música brasileira, retrata o cotidiano da periferia de São Paulo sob a perspectiva de temas como desigualdade social, racismo, encarceramento em massa, violência, desemprego e outros aspectos que fazem parte da crônica diária de territórios vulnerabilizados em todo o país.

A chegada do grupo de rap à academia reflete a ampliação dos versos, sonetos, prosas e todo tipo de expressão cultural associada a este tipo de literatura que ganha corpo, voz e lugar em praças, bares, becos e vielas por meio dos slams e saraus.


Edi Rock, Kl Jay, Ice Blue e Mano Brown: os Racionais MC's (Foto: reprodução site GQ)  

“O Racionais está dentro da literatura periférica, porque o rap é ritmo e poesia e o que o Mano Brown faz é poesia, poesia periférica. Então, quando o Racionais se torna leitura obrigatória de uma universidade, isso contribui para uma mudança de paradigma quanto à elitização da literatura”, diz Tavano.

“Ler Lima Barreto é maravilhoso, Machado de Assis é maravilhoso, mas ler o Kaya Mateus ou outro poeta que você escutou, talvez tenha um impacto no interesse pela leitura. Quando um moleque vê o mano que se veste parecido com ele, fala parecido com ele, vive o mesmo tempo e circula pelos mesmo espaço que ele, com um livro na mão, o interesse pela leitura é outro”, explica.

Conheça, a seguir, algumas experiências de slams que acontecem no Brasil:

Slam do Corpo  - Primeira batalha de poesias em Libras (Língua Brasileira de Sinais) e língua portuguesa do Brasil, a batalha reúne poetas surdos e ouvintes. (São Paulo - SP)

Slam Resistência - Criada em 2014, batalha realizada na Praça Roosevelt acontece todas as primeiras segundas do mês. (São Paulo - SP)

SlamOz - Toda última quarta-feira do mês, SlamOz reúne poetas e espectadores em frente à estação de trem de Osasco. (São Paulo - SP)

Slam da Guilhermina  - Primeiro slam de rua de São Paulo, coletivo existe desde 2012 promovendo a leitura e a poesia falada toda última sexta-feira do mês na praça Guilhermina. (São Paulo - SP)

Luau BSP (Biblioteca de São Paulo) - A  atividade apresenta aos jovens temas de cultura e sociedade através da música, literatura e poesia. Um espaço artístico de diálogo com microfone aberto. Trata-se de um programa que dá voz à população vulnerável do entorno da BSP. (São Paulo - SP)

Slam Dandaras do Norte - Batalha itinerante de poesias organizada por mulheres e para mulheres realizado mensalmente desde 2017. (Belém - PA)

Sarau da Onça - Realizado no bairro de Sussuarana, na periferia de Salvador, o projeto acontece  desde 2014. (Salvador - BA)

Slam das Mulé - Realizado em Camaçari, cidade próxima a Salvador, a batalha é protagonizada por mulheres e acontece mensalmente na Laje Multi Espaço. (Camaçari - BA)

Slam das Minas  - Coletivo artístico organiza uma batalha lúdico poética itinerante no estado do Rio de Janeiro. (Rio de Janeiro - RJ)

Batalha na Praça  - Organizado pelo Movimento Cultural de Rua, Batalha na Praça é realizada duas sexta-feira por mês na praça Benedito Leite. (São Luís  MA)

Slam Falatu - É uma competição de poesia autoral promovida mensalmente pelo Coletivo de Arte e Cultura Café com Chá. (Goiânia - GO)

SlamDéf - Batalha acontece toda segunda quinta-feira do mês em Brasilia no CONIC na Biblioteca Salomão Malina. (Brasília  - DF)


Fonte: Portal Educação e Território/São Paulo Secreto/Urban Taste